As figuras de linguagens são usadas em imagens para mostrar ao espectador que é possível ter uma vida perfeita. Elas mostram só uma parte da realidade, mas o seguidor toma a parte pelo todo. Desde a escola, aprendemos que é possível tomar a parte pelo todo, especialmente quando a comunicação tem essa intenção.
As imagens postadas na internet, especialmente aquelas que veiculam felicidade, riqueza, poder e completo bem-estar, confundem a percepção do seguidor, o fazendo pensar que ele não é parte deste mundo ideal, causando angústia e tendência ao consumo. Esse engajamento cresce, pois, muitos dos jovens não tem um modelo claro a seguir, e então, sem saberem o que fazer, eles seguem o comportamento dos outros. Com isso, o jovem vive conectado para não ser abandonado pelo seu suposto grupo de iguais.
O mundo digital inclui rapidamente, no entanto, leva a constantes sensações de não-lugar, de que há uma distância entre a vida dele e a dos outros, parecendo que todos são felizes, menos ele. Não há grupalidade, nem pertencimento. O mecanismo funciona apenas quando tem um perfil (fornecedor de conteúdo) e vários seguidores (consumidores de conteúdo) e não há conexões laterais entre os consumidores, apenas a idealização em relação ao líder.
Em geral, os seguidores são silenciados, os comentários são indesejados, apenas os likes são aceitos. Cansados de serem invisíveis e insuficientes na plateia do espetáculo, os jovens estão escolhendo o não querer mais.
Ao diminuir o tempo em que passavam se comparando com os amigos nas redes sociais (mundo imaginário), pode-se ter mais lugar para a atenção plena no aqui e agora (mundo significativo). O sentido da vida precisa da conexão com o próprio eu e não com imagens que fazemos dos outros. Ao voltar para si, o jovem pode descobrir relações mais próximas com pessoas mais significativas. É o famoso ditado: “menos é mais”. Nossa vida só faz sentido quando estamos inseridos na cultura, somos seres sociais e sim, os outros são importantes, mas precisamos refletir: que outros são esses? Que cuidado esse outro tem comigo? Se as relações não forem significativas e emancipadoras, podem ser colocadas em segundo plano sim.
O Jomo é uma resposta contracultural que demonstra a emancipação e a capacidade de inibir o impulso de seguir tendências. Deixa de ser massa e individualiza de novo. Os seres humanos fazem isso várias vezes na vida, desde que a criança saiu de casa e passou um período inteiro na escolinha, também precisou suportar a sensação de estar perdendo o lugar na preferência da mãe, que ficou em casa com o irmão menor. Quando mudou de escola ou de trabalho, precisou suportar a sensação de estar perdendo as relações anteriores, mas se a atenção estiver focada no que ganha, e não no que perde, a ansiedade tende a diminuir.
A sensação, especialmente nos jovens, é de conexão-desconexão, ou ser pertencer e não pertencer, o que os faz sentir voláteis, instáveis e realmente cansados. A tentativa de solução é de serem eles os anunciantes, e assim, se somam perfis de influenciadores que querem ser seguidos, para que os muitos admiradores lhes confiram a sensação de não estarem sozinhos.
A angústia é resultado da escolha, quando o que pode ser escolhido está em excesso, com as muitas opções. O mundo virtual inclui rapidamente, mas não mantém pertencimento. A experiência é de ser plateia, cada um tem acesso a um mundo de imagens, mas não se sente fazendo parte, principalmente, porque as imagens veiculadas mostram algo que se quer ter ou ser, pois a intenção é seduzir e estimular ao consumo. O que se vê nas redes sociais evidencia uma lacuna, uma distância entre a situação atual e a situação desejada (viagens, beleza, etc..).
O que o jovem espera do mundo digital? Espera não se sentir sozinho. Assim, ele se conecta com o conteúdo digital, mas é uma via de mão única, pois o digital não se conecta com o consumidor. É uma posição apenas especular. O digital inclui, mas não dá pertencimento.
O que o digital espera de mim? Espera que consuma os produtos veiculados, mesmo que isso resulte em exaustão mental para o consumidor. Ao se dar conta disso, o inocente útil reavalia a sua posição na relação com essa sociedade digital. E com essa clareza, ele pode decidir não querer mais ser um elemento desta engrenagem e escolher sair. Porque tem toda uma vida lá fora.
*Giseli Cipriano Rodacoski é Psicóloga psicanalista, Doutora em Biotecnologia, Mestre em Educação. Professora e coordenadora do curso de Psicanálise no Centro Universitário Internacional – UNINTER.