Pode não parecer algo muito importante para alguns ainda, mas a mudança climática tem e terá um impacto significativo em nossas vidas, pois estamos adaptados a uma constante de temperatura. Mudar rapidamente trará prejuízos à saúde e à manutenção do bem-estar. Além disso, essa modernidade, que tanto trouxe benefícios, carrega também os problemas que fazem o clima mudar e nos prejudicar, e também permite, infelizmente, disseminar informações erradas, levando pessoas a abandonarem o que conquistamos ao longo de décadas através do uso de vacina. Temos então, hoje em dia, um “combo” perigoso: Um clima diferente, que se torna rapidamente desfavorável, e uma diminuição da ação de manutenção e aumento da imunidade da população. Desse jeito não tem como escapar, estamos indo para uma realidade que favorece o aumento de doenças.
Sobre o clima podemos dizer que você pode até não estar “sentindo”, mas com certeza já percebeu que há mudanças. Lugares úmidos começam a ficar secos, chuvas torrenciais fora de época, aumento do calor em determinadas regiões que não apresentavam tantas ondas de calor. Você percebeu, você sabe do que estou falando; agora resta entender por que a modificação do clima vai influenciar negativamente nossa saúde. Boa parte dos vetores (vou ser mais específico aqui em relação aos mosquitos) dependem de condições favoráveis para se reproduzirem. E isso é o que está ocorrendo, o mundo ficando 1 grau celsius ou 2 graus mais quente, significa que algumas regiões mais frias começam a ser mais confortáveis e agradáveis para esses insetos se reproduzirem. Teremos então mais áreas para reprodução e proliferação de vetores que irão transmitir a Dengue, Zika vírus entre outros patógenos que dependem de vetores para a transmissão, estamos mais expostos, pois temos tempos quentes mais prolongados. O aumento das ondas de calor é bioquimicamente favorável aos mosquitos (que atuam como vetores de doenças) e aos fungos que estão quietinhos em seu ambiente úmido e escuro, mas aumentar um pouco a temperatura torna as condições mais favoráveis à reprodução.
As pessoas que não estão em regiões quentes estão começando a experimentar períodos maiores de calor e período menores de frio. Isso causa prejuízo à respiração e à imunidade, especialmente em crianças e idosos ou em pessoas com comorbidade pré-existente. Se somarmos ao problema da poluição (e agora algumas queimadas) piorando a condição do ar, veremos o aumento do número de casos de doenças respiratórias.
O aumento da temperatura vai influenciar na produção de alimentos e até mesmo na produção do pescado. Essa situação traz à tona a questão de mudanças na alimentação, empobrecendo a qualidade do que é ofertado e encarecendo os alimentos, devido a diminuição do que é produzido. Sobra espaço então para as comidas mais baratas que, infelizmente, são ultraprocessadas e de baixo valor nutricional. Comer mal leva a problemas nutricionais e claro, na produção de defesas do organismo. Para piorar, anos e anos de estudo e desenvolvimento do conhecimento sobre vacinas ‘vai por água abaixo’ com a disseminação de informações erradas e absurdas sobre uma das formas mais eficientes de prevenção de doenças que é a Vacinação.
O Brasil sempre foi destaque mundial em relação aos seus programas de vacinação e exemplo por conseguir controlar e erradicar doenças através do trabalho de conscientização e vacinação. Hoje em dia, com a crescente ideia e número de pessoas que ouvem e falam sobre a não vacinação, temos o retorno de doenças antes erradicadas. Estamos permitindo a volta de doenças como sarampo e coqueluche, por exemplo, simplesmente porque algumas pessoas (sem respaldo nenhum) começaram a ouvir e seguir outras pessoas (igualmente erradas) que não acreditam em vacinas.
Estamos construindo assim um barril de pólvora com o fósforo aceso na mão. Agredimos o clima e não estamos nos protegendo de doenças com aquilo que levamos anos para desenvolver e demonstrou ser eficiente. Sinceramente, onde está a inteligência que nos trouxe até aqui em pleno 2024? A qualquer momento, poderemos explodir tudo, a não ser que comecemos a mudar essa situação. O mais rápido a se fazer é conscientizar os “anti-vax” que eles estão absurdamente errados. Isso já ajuda muito, controlar o que é possível com o uso de vacinas. Em seguida, apoiarmos toda e qualquer iniciativa que pense em formas de não atingir o clima e é claro, que não quebrem a economia, afinal de contas, não adianta nada você pensar verde e inviabilizar o desenvolvimento. Para isso, precisamos do uso correto da ciência e passar a respeitá-la mais, sem a usar como carta na manga para as discussões políticas.
* Benisio Ferreira da Silva Filho, Biomédico, Mestre em Ciências da Saúde e Doutor em Biotecnologia
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JULIA CRISTINA ALVES ESTEVAM
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