O clima favorável ao plantio e a presença de novos produtores contribuiram para o bom desempenho da colheita de grãos nos últimos meses. A opinião é da produtora rural Neusa Patel. Para ela, o clima tem sido favorável para o plantio e, consequentemente, uma boa colheita. “Isso favorece uma produtividade maior, os grãos são melhores, se colhem bem, com uma porcentagem alta de grãos bons”. A moradora de Mato Grosso acredita que o incremento de novos produtores também influenciou. “Há um número maior de pessoas que, as vezes, deixam da sua atividade que poderia ser somente pecuária para ingressar na agricultura ou acrescentam a agricultra na sua atividade pecuária, então houve uma maior produtividade”, avalia.
Os dados do 11º Levantamento da Safra de Grãos divulgados pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) mostram que a estimativa para a produção de grãos na safra 2022/23 é de 320,1 milhões de toneladas, um aumento de 17,4%, o que representa um volume de 47,4 milhões de toneladas a mais que o volume colhido no ciclo passado. De acordo com o o gerente de acompanhamento de safras da Companhia, Fabiano Vasconcellos, esse resultado é reflexo da combinação dos ganhos de área e de produtividade das lavouras.
“A produção ela vai ser uma produção recorde no país e isso se confirma porque boa parte das lavouras já tem muita coisa encaminhada para esse resultado recorde e é um momento expressivo principalmente quando se compara a última safra em que houve problemas climátios, então os principais produtos da agricultura brasileira tiveram um dempenho muito bom”, destaca.
O consultor de agronegócio da BMJ Consultores Associados, Victor Nogueira, acrescenta um outro fator para esse resultado. “Quando a gente tem essa disparidade entre o aumento de área e o aumento de produtividade, a gente tem o que a gente chama de ‘poupa-terra’, porque você consegue aumentar o volume total de produtividade sem precisar aumentar a área na mesma proporção. Você produz mais com menos”, ressalta.
Na opinião do produtor rural, Robson Filho, o Brasil tem condições de superar cada vez mais as suas produções agrícolas a cada ano. “O país possui todas as propriedades para continuar batendo recordes na produção ano após ano. Com a migração da pecuária mais forte nos últimos anos para a lavoura, já que os custos ficaram elevadíssimos sem falar da queda drástica da arroba do boi, os resultados ainda tendem a ser melhores nos próximos anos para o mercado agrícola”, avalia.
A colheita do milho segunda safra ultrapassou 64,3% da área plantada e segue avançando, como indica a Conab. O volume estimado para a segunda safra de milho poder vir a ultrapassar as 100 milhões de toneladas — a maior produção já registrada na série histórica. Com o bom desempenho, a colheita total do cereal está projetada em aproximadamente 130 milhões de toneladas, 16,8 milhões de toneladas a mais do que na temporada passada. Produtos da safra de verão, soja e arroz têm produção estimada em 154,6 milhões de toneladas e 10,03 milhões de toneladas, respectivamente. Para o arroz, mesmo com o clima mais favorável, a redução observada na produção se deve ao plantio de uma área 8,5% inferior.
De olho no trigo
Dentre os produtos de inverno, a semeadura das culturas foi praticamente finalizada em julho. Principal cultura cultivada, o trigo registra um crescimento na área plantada de 11,2%, chegando a 3,4 milhões de hectares. Com isso, a produção está estimada em 10,4 milhões de toneladas, volume semelhante ao obtido na safra anterior.
O consultor de agronegócio, Victor Nogueira, diz que o trigo também merece destaque nesse cenário: “Haverá um incremento de área plantada dando continuidade do aumento da importância dessa cultura pra produção agrícola brasileira. Existe uma estimativa que, em 2030, o Brasil deixará de ser um importador líquido de trigo para ser autosuficiente e também conseguir exportar”, pontua.
Para Rafael Mihailovici, head de trigo da OpenSolo, alguns eventos impactaram nas produções de grãos como o trigo. “Nas últimas duas safras, o produtor acabou rentabilizando bastante no trigo oriundo da pandemia e também da guerra no leste europeu. Eles nunca viram os preços em reais superando os 2.200/2.300 reais por tonelada. Isso acabou fazendo com que eles substituíssem algumas cultivas pelo trigo, no Paraná, e em algumas regiões de gado e também de pousio — regiões vazias — para plantar trigo”, observa.
Expectativas para o futuro
Neste levantamento, a Conab mantém a projeção de exportações recordes. No caso do milho, com a demanda externa pelo cereal brasileiro aquecida, a projeção é que 50 milhões de toneladas sairão do país. Confirmado o resultado, o volume exportado pelos agricultores brasileiros na safra 2022/23 será maior que as exportações realizadas pelos Estados Unidos. Ainda assim, a produção recorde do grão permite que haja uma recuperação de 30% nos estoques ao fim do atual ano safra, sendo estimados em 10,5 milhões de toneladas.
Nogueira acredita que, para os próximos meses, esse resultado deve se manter. “A área não deve diminuir e os ganhos de produtividades propiciados tanto pela tecnlogia quanto pelas condições climáticas favoráves, isso não deve se reverter. O especialista espera que os produtores continuem se beneficiando desses fatores. “É é possível até que resultados futuros superem as previsões. A produtividade e o volume total colhido futuro tende a ser igual ou superior a essa previsão da Conab”, salienta.