Por Larissa Anselmo, diretora de expansão do Grupo 3S CORP Soluções Internacionais
Seja dentro do comércio internacional ou do mercado imobiliário, a alocação de espaço é uma parte importante das estratégias bem sucedidas nos dois segmentos. Cada mercado, com suas particularidades, enfrenta ciclos de oferta e demanda que definem a dinâmica de preços e fluxos. Mas, diferente entre si, em um dos lados estão os investidores e, do outro, as empresas que utilizam da logística internacional e nacional.
Comércio exterior: o desafio da estratégia logística
No comércio exterior, a jornada de um produto, desde a produção até a entrega final, é uma sucessão de etapas de alocação de espaço, que começa na fábrica do exterior, passando pelo espaço no contêiner e embarque, chegada no destino e a etapa de desembaraço aduaneiro, até os centros logísticos e transportadoras. A eficiência em cada uma dessas fases é crucial para garantir competitividade e lucratividade.
Ciclo imobiliário: o termômetro do mercado
O mercado imobiliário, por outro lado, é regido por um ciclo de investimento com quatro fases:
Superoferta: o aumento na disponibilidade de espaços e a consequente redução nos preços de locação.
Recessão: a oferta ainda em alta pressiona os preços para baixo, além do esperado.
Recuperação: uma retomada nos preços de locação acompanhada pela diminuição na taxa de disponibilidade.
Expansão: a escassez de oferta eleva os preços e incentiva novas construções.
O paralelo entre os dois mundos
Analisando o comércio exterior através dessa lente imobiliária, conseguimos desenhar um paralelo interessante.
Superoferta: no contexto atual, a produção asiática, especialmente na China, oferece alta disponibilidade, principalmente pela absurda capacidade de se adequar à demanda de outros países. Assim como no mercado imobiliário, a escolha por um fornecedor de qualidade é decisiva, pois o excesso de opções exige uma seleção minuciosa para garantir qualidade e confiabilidade.
Recessão (em paralelo, esta fase seria a de Revisão): no desembaraço aduaneiro, o serviço tem passado por um processo de digitalização. Essa transição é análoga à recessão imobiliária, onde ajustes são feitos em resposta às condições de mercado.
Recuperação: os galpões logísticos estão em fase de recuperação (já entrando na de Expansão, eu diria). Aqui, o aumento das vendas online, após a pandemia, pediu a construção de novos armazéns, principalmente em regiões portuárias. Além de mais oferta, o serviço logístico de armazenagem e transporte tem se especializado de forma acelerada com tecnologia e novas soluções, para absorver a demanda. Nessa fase, similarmente à recuperação dos preços de locação no mercado imobiliário, as estratégias logísticas bem-sucedidas começam a render frutos.
Expansão: a indústria e o comércio eletrônico estão em expansão. Acredito que podemos considerar vários fatores de influência, como: tremenda capacidade produtiva da indústria asiática, preocupações ambientais com esgotamento de recursos, novas tecnologias e consumo acelerado. Os países têm adequado sua produção para “calibrar” a economia e ganhar competitividade. A demanda aumenta, mas a oferta não consegue responder na mesma velocidade. Isso impulsiona novos investimentos, regulamentações e, assim como na fase de expansão imobiliária, aumento dos preços.
Transporte marítimo: uma maré de desafios neste modal
O frete marítimo é uma peça central no comércio exterior, mas requer uma estratégia cada vez mais sofisticada. Com poucos navios disponíveis para atender à demanda global crescente e a transição energética impactando o setor, bem como conflitos geopolíticos, prevê-se aumento nos custos de transporte. O paralelo aqui é a relação entre oferta e demanda de espaços comerciais em regiões nobres, onde a escassez aumenta os preços.
Pânico ou aceitação com a recessão?
Crises geralmente escondem oportunidades. Pode ser a vez do transporte aéreo de cargas se potencializar. Assim, como as compras online, feitas por pessoa física, crescem em sites do exterior, a demanda pelo frete courier internacional tende a subir. Vimos que condomínios logísticos expandiram diante da demanda, por isso agora pode ser a vez de vermos inovação acelerada nos modais de transporte.
O segredo do sucesso no comércio internacional
Muitos importadores acreditam que encontrar um produto no mercado asiático é a chave para o sucesso. No entanto, como pudemos refletir juntos aqui, a compreensão do ciclo de oferta e demanda é fundamental. A escolha de um fornecedor que possa garantir boas estratégias nas demais etapas da cadeia logística, internacional e nacional, se faz importante.
Como no mercado imobiliário, onde a localização e o timing de um investimento fazem toda a diferença, no comércio exterior, a visão especialista em cada fase é o que determina a rentabilidade da operação.