A presença de alunos com transtorno do espectro autista (TEA) nas escolas brasileiras tem aumentado, segundo o Censo Escolar divulgado esse ano pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Em 2022, os estudantes autistas somavam 429.521 mil pessoas; já em 2023, houve um incremento de 206.681 novos alunos com essa condição, o que representa um salto de 48,1% em um ano. De 2019 a 2023, o índice de crescimento foi de 257%.
De acordo com o Mestre em Educação Emanuel Santana, CEO da Adapte, startup de impacto social que promove a inclusão de autistas na educação formal e no mercado de trabalho, a alta deve-se, principalmente, pelo maior diagnóstico do autismo na sociedade.
O especialista ainda destaca que é a escola pública a grande responsável por promover a inclusão de crianças e adolescentes autistas no ensino regular, enquanto a maioria das instituições da rede privada negam a matrícula sob a justificativa de que não estão preparadas para acolher o aluno com essa condição.
“As pessoas com deficiência incluídas na rede privada somam 148 mil. Se considerássemos que todas elas fossem autistas, o número seria menor do que nas escolas públicas comuns. Ainda assim, a rede pública seria responsável por incluir pelo menos 458 mil alunos com TEA”, explica Santana.
Para o especialista, a inclusão precisa chegar à escola privada para que ela se qualifique e aprenda a lidar com os desafios de comunicação, comportamento, regulação emocional, sensibilidade sensorial, dificuldades de aprendizagem e de socialização que são comuns à comunidade autista.
Apesar de o censo ter demonstrado uma elevação considerável na quantidade de alunos com TEA, ele acredita que o dado está subestimado. Avaliações feitas pela Adapte, ponderando levantamentos de outras organizações, sugerem um número bem maior.
“Nós fizemos alguns estudos estatísticos analisando dados divulgados pelo censo do IBGE e pelo Center of Diseases Control and Prevention (CDC), dos Estados Unidos, que considera que 1 em cada 36 crianças até 8 anos são autistas. Cruzando isso com o censo escolar, deveríamos ter 1,3 milhão de alunos autistas nas escolas, mais do que o dobro do número atual, que é de 636.202 estudantes”, avalia.
Mesmo que o Censo Escolar não seja corroborado por estatísticas de outras organizações, o levantamento do Inep mostra que tem ocorrido um avanço da inclusão nas escolas não só com crianças e adolescentes diagnosticados com TEA. Atualmente, há 1,6 milhão de alunos com deficiência no ensino regular e, de 2022 para 2023, houve crescimento de 244.435 crianças e adolescentes na sala de aula com algum tipo de deficiência, como intelectual, física e de transtornos de desenvolvimento.
Na visão de Emanuel, o cenário é positivo, mas ainda há muitos desafios a serem enfrentados para uma educação inclusiva no País.
“É preciso haver uma reforma sistêmica na educação, com aprimoramentos e modificações em conteúdo, métodos de ensino, abordagens, estruturas e estratégias de educação para superar barreiras, oferecendo a todos os estudantes uma aprendizagem significativa”, analisa o CEO da Adapte.
Capacitação gratuita
A Adapte já capacitou mais de 20 mil profissionais de educação e disponibiliza cursos gratuitos online para educadores e escolas públicas e privadas se qualificarem sobre o transtorno do espectro autista.
Um deles é o Plano Educacional Individualizado, que aborda ferramentas e estratégias para criar planos personalizados que atendam às necessidades de cada estudante, por exemplo, autistas e neurodivergentes, e ainda trata sobre aprendizagem e funções executivas no autismo. Outra capacitação visa à inclusão escolar de autistas, que ensina práticas de sucesso para professores baseadas em evidências para facilitar a comunicação, interação social e aprendizagem de estudantes diagnosticados com TEA. O curso também traz conteúdos sobre a introdução ao autismo, conceitos fundamentais e estratégias para condução e inclusão desse público em sala de aula. Para se inscrever gratuitamente, basta acessar o site www.adapte.com.vc.