A Fundação Abrinq lança o estudo Mudanças climáticas e seus impactos na sobrevivência infantil, um documento que mostra como as alterações climáticas ameaçam o presente e o futuro de crianças e adolescentes. O material reúne dados alarmantes e destaca a necessidade urgente de ações concretas para mitigar os impactos do aquecimento global.
A temperatura global aumentou em 1,1°C durante os anos de 2011-2020, com projeções que indicam um crescimento de até 4°C até 2081-2100, dependendo da intensidade das emissões de gases de efeito estufa (GEE). Este aumento contribui para a intensificação de eventos climáticos extremos, como ondas de calor, secas prolongadas, enchentes e ciclones tropicais, afetando severamente a saúde, a segurança e a qualidade de vida das crianças.
Apesar disso, as ações e políticas atuais de mitigação e adaptação têm se revelado insuficientes. A cada grau adicional de aquecimento, os impactos se tornam mais graves e irreversíveis. O nosso país ocupa a sexta posição no ranking de emissores globais de GEE, com grande parte das emissões provenientes do desmatamento da Amazônia. Embora o Brasil tenha um papel significativo nas emissões, ele também possui um potencial único para contribuir com soluções globais, dado que abriga 60% da floresta amazônica.
O estudo destaca que uma criança de 10 anos em 2024 enfrentará, ao longo de sua vida, um aumento significativo na exposição a eventos climáticos extremos, em comparação com uma criança nascida em 1970:
• 5 vezes mais secas, que podem causar escassez de água potável, desidratação e piora na nutrição;
• 4 vezes mais quebras de safra, comprometendo o acesso a alimentos e aumentando os riscos de desnutrição;
• 3 vezes mais enchentes de rios, prejudicando infraestruturas essenciais, como escolas e hospitais;
• 2 vezes mais incêndios florestais e ciclones tropicais.
Estes dados reforçam que, embora as crianças contribuam minimamente para a crise climática, serão as mais impactadas por seus piores efeitos. “Crianças e adolescentes não são responsáveis pelo aquecimento global, mas herdarão seus piores efeitos. Este estudo é um convite à mobilização de todos”, destaca Victor Alcântara da Graça, superintendente da Fundação Abrinq.
Impactos na saúde infantil
Crianças expostas à poluição do ar, agravada pelas mudanças climáticas, apresentam maior propensão a doenças respiratórias, como asma, bronquite e infecções respiratórias. Além disso, o calor extremo pode comprometer o desenvolvimento pulmonar e a capacidade de regular a temperatura corporal, aumentando os riscos de doenças graves ou morte.
Outro ponto preocupante é o aumento de doenças, como dengue, febre amarela e chikungunya, que se intensificam com as temperaturas mais altas. Apenas no primeiro trimestre de 2024, mais de 239 mil casos de dengue foram registrados entre crianças e adolescentes, resultando em 52 mortes.
Além das doenças físicas, o estudo também aponta que desastres climáticos frequentes, como enchentes e tempestades, geram impactos psicológicos significativos, aumentando os casos de transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), ansiedade e depressão entre os jovens.
Educação em risco
As mudanças climáticas afetam diretamente a educação em várias dimensões:
• Interrupção das aulas: durante as enchentes de maio de 2024 no Rio Grande do Sul, muitas escolas permaneceram fechadas por semanas;
• Infraestrutura inadequada: ambientes escolares quentes e mal ventilados prejudicam o aprendizado, enquanto escolas destruídas por desastres muitas vezes não conseguem retomar rapidamente as atividades;
• Maior abandono escolar: fechamentos frequentes aumentam o risco de abandono e dificultam o retorno às salas de aula, perpetuando ciclos de pobreza.
A educação é um pilar da proteção de direitos das crianças e dos adolescentes e uma ferramenta de aumento de consciência e de aprendizado e preparação para identificar e mitigar danos ambientais. Por isso, reforça o estudo, é imprescindível a abertura de espaços democráticos para a discussão e o empoderamento dos mais jovens, estimulando que eles se tornem agentes de mudanças em suas famílias e comunidades, fundamentando iniciativas, ações conscientes e críticas, e impactando processos de tomadas de decisões.
Segurança alimentar e nutricional
A crise climática também ameaça a segurança alimentar, acentuando problemas como fome, desnutrição e até obesidade, devido ao acesso limitado a alimentos nutritivos.
Segundo o IBGE, 21,6 milhões de lares brasileiros enfrentavam algum grau de insegurança alimentar em 2023, sendo que 3,2 milhões viviam em situação grave. Desses, 5,4 milhões de crianças conviviam diariamente com a falta de alimentos. A situação é ainda mais crítica entre crianças menores de 5 anos: 3,7% apresentavam desnutrição, com peso baixo ou muito baixo para a idade, em 2023.
O aumento das temperaturas e as secas prolongadas afetam diretamente a produção agrícola, agravando ainda mais o cenário de insegurança alimentar.
Além desta publicação, em 2025, a Fundação Abrinq promoverá o debate sobre mudanças climáticas de forma transversal nos seus programas e projetos e para seus respectivos stakeholders, a fim de fomentar a conscientização sobre o tema e suas consequências para as crianças e os adolescentes.
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LEANDRO ANTONIO FERRARI ANDRADE
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