O avanço da tecnologia e a crescente presença das redes sociais trouxeram consigo novas formas de entretenimento – entre elas, os jogos de apostas on-line, como o popular “Jogo do Tigrinho”. Esse tipo de jogo, semelhante a um caça-níquel convencional, tem atraído cada vez mais jogadores, principalmente pela facilidade de acesso via smartphones. No entanto, a falta de transparência sobre os algoritmos utilizados por essas plataformas e os relatos de pessoas que perderam grandes quantias de dinheiro ou até mesmo bens de valor levantam sérias preocupações com relação à saúde mental.
O psicólogo especializado em saúde mental, Alexander Bez, explica que, embora não se trate de um vício químico, como no caso de substâncias como o álcool, o comportamento obsessivo gerado por esses jogos pode ser igualmente prejudicial. “O funcionamento patológico do apego mental aos jogos é muito similar ao de um vício químico, com ações repetidas e muitas vezes difíceis de controlar”, afirma Bez.
De acordo com o psicólogo, esse comportamento está diretamente ligado ao Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), uma condição que leva o indivíduo a repetir ações de maneira compulsiva, mesmo sabendo das consequências negativas. “A boa notícia é que o tratamento tende a ser menos complexo, já que não envolve componentes químicos. Contudo, o impacto psicológico pode ser profundo e requer atenção”, esclarece o especialista.
Os Jogos de Apostas e Seus Impactos na Saúde Mental
Os jogos de aposta online possuem um impacto ainda mais intenso no cérebro humano do que os jogos tradicionais. Bez destaca que “a resposta rápida oferecida por esses jogos é um dos fatores que intensificam a compulsão, pois, ao contrário da loteria convencional, onde há um tempo de espera até o resultado, os jogos on-line oferecem feedback instantâneo, incentivando a continuidade imediata das apostas”.
Esse ciclo constante de apostas, amplificado pela influência de celebridades e publicidades direcionadas, acaba exacerbando comportamentos compulsivos. A exposição contínua a esses estímulos pode agravar ainda mais a situação, especialmente para aqueles que já estão vulneráveis a transtornos mentais. “A presença de influenciadores digitais promovendo esses jogos aumenta o risco, pois cria uma ilusão de sucesso e ganhos rápidos, levando muitas pessoas a negligenciar suas finanças e até suas responsabilidades diárias”, aponta o psicólogo.
Um caso recente que exemplifica os perigos das apostas on-line é o da influenciadora Deolane Bezerra, presa por envolvimento com a promoção de sites de apostas. A investigação revelou um esquema bilionário de apostas irregulares, o que reacendeu o debate sobre a legalidade e os riscos desse tipo de jogo. “Casos como o de Deolane ilustram como as apostas on-line não afetam apenas a saúde financeira, mas também expõem indivíduos a riscos legais e morais, agravando ainda mais o impacto sobre a saúde mental de muitos que são influenciados por essas plataformas”, comenta Bez.
Identificando o Problema e Buscando Ajuda
É importante distinguir o jogo casual do comportamento patológico. Bez explica que jogar ocasionalmente, como em uma viagem ou em sorteios da loteria, não apresenta riscos significativos. Porém, quando o jogo passa a ser uma prioridade na vida da pessoa, superando compromissos diários e se tornando uma obsessão, é possível que o indivíduo esteja enfrentando um Transtorno do Impulso, dentro do espectro do TOC.
“Apostar compulsivamente, em grandes quantias e com intervalos curtos entre as jogadas, são sinais de que o jogo passou a fazer parte de um comportamento obsessivo-compulsivo”, diz Bez. Além disso, pessoas com TOC apresentam uma atividade cerebral mais aguçada no córtex orbitofrontal, o que explica a invasão de pensamentos intrusivos que levam à repetição do comportamento.
Tratamento e Possíveis Soluções
Para aqueles que desenvolvem comportamentos patológicos em relação às apostas on-line, é fundamental buscar ajuda profissional. O diagnóstico e o tratamento adequado devem ser conduzidos por psicólogos ou psiquiatras capacitados, que podem indicar abordagens como:
Psicoterapia voltada para o controle da compulsão e obsessão;
Terapias focadas na compreensão dos perigos e ilusões associadas ao jogo patológico;
Medicação ansiolítica e antidepressiva, quando necessário.
Bez reforça que “o tratamento adequado pode trazer alívio e ajudar a pessoa a retomar o controle de sua vida, evitando que as consequências desse comportamento comprometam suas finanças, saúde mental e relações pessoais.”
Em um mundo onde a ostentação e o consumo são frequentemente glorificados nas redes sociais, é essencial que se discuta abertamente os riscos das apostas on-line e seus impactos na saúde mental.
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MARCIA ROSANE STIVAL
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