A saúde mental, física e emocional é essencial para o desempenho, a qualidade e o progresso no trabalho, segundo o Project Management Institute América Latina (PMI). A entidade alerta para o crescimento da síndrome de burnout, um transtorno ocupacional frequente, provocado por cargas de trabalho extenuantes, alta cobrança e exigências crescentes.
O Brasil é o segundo país do mundo com mais ocorrências da doença, ficando atrás somente do Japão, conforme o relatório da International Stress Management Association (Isma-BR). Uma pesquisa da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) mostrou que um em cada quatro brasileiros padece com a síndrome de burnout.
Para Silvia Rezende, psicóloga e especialista em terapia cognitiva comportamental, a depressão e ansiedade, reflexos do burnout, ressalta a necessidade de se criar uma cultura organizacional que aborde, com mais abrangência, a discussão sobre a saúde mental no ambiente corporativo.
“Muitos funcionários se sentem receosos de expor seus sentimentos aos seus superiores, por temerem represálias. Em uma sociedade cada vez mais conectada, pode ser difícil se desligar do trabalho e se ocupar de outros aspectos da vida”, detalha.
No entanto, diz a psicóloga, isso é crucial para o bem-estar. Estipular limites e definir horário de trabalho específico e principalmente se empenhar para segui-lo é, especialmente benéfico, para quem trabalha em casa, por exemplo. “Quando o horário de trabalho acaba, é importante fechar o computador e evitar checar e-mails ou mensagens de trabalho”.
O estudo do PMI revela que o risco de burnout não é igualmente compartilhado entre os colaboradores. As mulheres têm uma taxa de esgotamento de 46%, enquanto os homens têm uma taxa de 37%.
Silvia enfatiza que, além das obrigações profissionais, as mulheres muitas vezes assumem uma quantidade consideravelmente maior de tarefas domésticas em comparação aos homens. “Essa jornada, que pode chegar a ser até tripla, resultam em um estado de exaustão física e mental, levando a problemas mais sérios”.
As principais causas para o aumento da síndrome de burnout no ambiente de trabalho incluem a realização de tarefas sob pressão e em ritmo acelerado, assédio moral e demandas crescentes nas empresas.
Para evitar a sobrecarga dos colaboradores, o relatório da PMI recomenda estabelecer expectativas claras antes de cada fase, permitindo que eles se sintam mais seguros diante de imprevistos, além de um planejamento eficaz. O estudo considera ser essencial priorizar um ambiente de trabalho justo e saudável para garantir a saúde mental dos funcionários.
“Não hesite em dizer ‘não’ quando necessário e lembre-se de que cuidar de si mesmo é importante”, aconselha a psicóloga.
A comunicação aberta sobre questões de saúde mental é fundamental para criar um ambiente de trabalho inclusivo e de apoio. “Isso pode ajudar a reduzir o estigma associado à exaustão e encorajar os funcionários a procurarem ajuda quando necessário. Esses elementos são particularmente relevantes em um mundo onde a síndrome de burnout está se tornando cada vez mais comum”.
Impotência
Silvia ainda ressalta que muitos colaboradores se sentem inseguros ao discutir sua saúde mental no ambiente de trabalho. Eles temem ser percebidos como fracos ou incapazes. “Algumas pessoas temem que suas organizações não compreendam ou não levem a sério seus problemas de saúde mental. E ainda há o medo de ser prejudicado na perspectiva de crescimento na carreira, dentro da organização”.
Reservar tempo de qualidade para passar com a família e amigos é outra estratégia importante. Isso não só ajuda a recarregar as baterias, mas também reduz o estresse, proporcionando uma pausa necessária das demandas do trabalho.
Práticas de autocuidado, como exercícios físicos, meditação e sono adequado, são essenciais para a saúde mental. Essas atividades podem ajudar a reduzir o estresse e a ansiedade, promovendo um maior equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal.
Sobre Silvia Resende
Silvia Rezende é uma psicóloga e pedagoga com uma formação em Terapia cognitivo-comportamental. Ela tem 27 anos de experiência em diversas áreas da psicologia e é especialista em Terapia Comportamental Cognitiva pelo Ambulatório de Ansiedade (AMBAN), do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e é filiada à Federação Brasileira de Terapias Cognitivas.
Atualmente, ela é a coordenadora técnica da Clínica de Psicologia LARES e atua como psicóloga colaboradora no Instituto de Psiquiatria – IPq HCFMUSP. Além disso, ela é professora no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, onde ministra o curso “Lidando com a depressão”.
Silvia também concluiu um curso de Mindfulness e Redução de Estresse, o que a capacita a ajudar seus pacientes a lidarem com o estresse e a ansiedade de maneiras eficazes. Como psicóloga clínica, ela se especializou em Transtornos de Ansiedade e Depressão, fornecendo tratamento e apoio para aqueles que lutam contra essas condições.